domingo, 7 de agosto de 2011

Até Breve Mãinha!







Depois de alguns meses sem atividade no blog, volto a escrever, mas dessa vez para falar de um assunto que me custou muitas lágrimas: o falecimento de minha mãe.



Há quase dois anos que eu vinha cuidando dela em tempo integral, pois ela sofreu uma sequência de AVC's que lhe deixaram sequelas graves e ela passou a depender de mim para tudo: desde o banho até mesmo lhe dar a comida na boca. Por mais que fosse medicada (e olha que a relação de remédios era enorme!) a pressão arterial dela não controlava.



Mas nos últimos meses, mais ou menos em abril, o quadro começou a complicar e ela passou a ter mais limitações que antes. Até que em 21 de Junho ela amanheceu com o rosto inchado como se fosse uma reação alérgica e eu a levei na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) para ser medicada e descobrir a razão do inchaço. Enquanto esperávamos o resultado do exame de sangue pedido pelo médico ela foi medicada para a pressão arterial controlar, estava altíssima, mas misteriosamente o rosto voltou ao normal sem que ela tomasse remédio algum e o exame de sangue deu normal. Porém, o cardiologista de plantão não lhe deu alta alegando que era impossível uma pessoa estar bem com a pressão em 19x10. Por mais que eu explicasse que isso era normal na minha mãe ele não aceitou e encaminhou pra Ala Vermelha (quase uma UTI) e a deixou em observação a noite inteira.



No outro dia (22/06) a pressão estava em 24X10, mesmo sendo medicada a noite inteira. Então ela foi transferida para o Hospital Dom Helder Câmara para o setor de cardiologia e aí começou a Via Crucis. Ao chegar lá ela foi medicada o dia quase todo e nada controlava a pressão, até que foi transferida para a UTI e eu só tive a chance de conversar com minha mãe mais um dia, porque no dia 24/06 ela sofreu o 5º AVC e a partir daí não falou mais com ninguém.




Foi entubada, recebeu medicação venosa 24 horas, sonda pra se alimentar, sessões de hemodiálise diárias (devido às medicações fortíssimas pra controlar a pressão, os rins paralisaram), traqueostomia (passou 01 mês respirando com aparelhos), teve infecção pulmonar por duas vezes. Enfim, um sofrimento que eu já não suportava mais vê-la passar.



Mesmo ela não falando comigo, eu nunca deixei de conversar com ela e cantar pra ela ouvir todas as vezes que eu entrava para visitá-la. Eram apenas duas visitas de 30 minutos diariamente, que tínhamos que administrar o tempo para dividir com todos os familiares que quisessem vê-la, mas eu estava lá sempre. Eu sei que ela me ouviu o tempo inteiro, a audição é o último sentido que um paciente em coma perde e eu não deixei passar a oportunidade dela ouvir os hinos que ela mais gostava.




Foram 33 dias de muita espera, ansiedade, palavras desanimadoras, mas em nenhum momento deixei que a minha fé no Deus Vivo e Poderoso fosse abalada. Eu sabia que Ele estava no controle de todas as coisas e que Ele iria fazer o melhor (nesse caso, o melhor para a minha mãe).



Muitas pessoas estavam em oração por ela, agradeço a cada um que dedicou um pouco do seu tempo pedindo a Deus em favor de minha mãe, em especial ao meu amigo, o Pastor Nill, que disponibilizou o seu blog pessoal para levantar um clamor em favor do seu restabelcimento (http://nillministerio.blogspot.com/2011/06/oracoes-em-favor-da-mae-de-angela.html). Com certeza as orações foram ouvidas, mas Deus que é soberano quis levá-la de volta ao Lar Celestial. No dia 24/07 (domingo) às 14:40h ela descansou. E eu não disse "adeus", porque eu sei que um dia vou reencontrá-la!



Segue abaixo a mensagem que eu fiz e li em sua homenagem, na cerimônia fúnebre:


Hoje é um dia difícil para todos nós, pois estamos nos despedindo da pessoa mais importante de nossas vidas. Já fiz várias homenagens à minha mãe em vida, de várias formas, mas nunca imaginei que chegaria um dia a fazer uma homenagem póstuma para ela. Não é nada fácil, a dor é enorme.

Minha mãe Alice Vauthier de França nasceu no dia 02/01/1947 às 0:45h em Recife. Primeira filha de Gilberto Rodrigues de França e Maria Auxiliadora Vauthier de França (ambos in memorian). Pronunciou a sua primeira palavra aos 05 meses, dizendo “papai”; aos 09 meses saiu o seu primeiro dentinho e andou quando tinha 01 ano e 02 meses de idade.

Teve como irmãos: Alfredo e Albanita (já falecidos) Aluísio e Angelina, os quais ajudou a criar e se tornou mais mãe do que mesmo irmã mais velha.

Foi uma menina como qualquer outra de sua idade, que mesmo com a responsabilidade de cuidar da casa e dos irmãos pra ajudar sua mãe, tinha seus momentos de diversão com as brincadeiras de criança: pular corda, amarelinha, brincar de casinha, fazer comidinhas... Mas o que ela mais gostava de fazer era cantar. E como cantava bonito! Tinha uma voz belíssima e afinada. Sempre ganhava em 1º lugar nos concursos que participava. Mas seu pai não lhe permitiu fazer uma carreira artística e como filha obediente aceitou a determinação dele.

Casou-se aos 18 anos com Adeildo Vieira e aos 19 dava à luz o seu 1º filho, Wellington. Logo depois nasceram Washington, Wallace e por fim, quase sem esperanças de realizar o seu grande sonho de ter um filha, nasce Angela.

Fez sua decisão para Cristo em 25/08/1973 e em dezembro do mesmo ano batizou-se nas águas e recebeu o batismo com o Espírito Santo.

Aos 27 anos veio a separação, mas como uma mulher de fibra, guerreira, resolveu não se casar novamente e criou sozinha os seus 04 filhos, sem em momento algum deixar de ensinar a todos eles os princípios éticos, morais e religiosos. Sempre presente em todos os momentos da vida deles: na vida escolar, nas enfermidades, nos momentos marcantes e de felicidade. Sempre teve uma palavra de conforto e um conselho coerente para todos. Foi uma mãe justa e que amou a todos sem predileção. Abriu mão de sua vida por causa dos filhos e nunca se lamentou por causa disso, pelo contrário, tinha muito orgulho deles.

Na Obra do Senhor dedicou sua vida cantando em coral, quarteto, dirigindo círculo de oração, grupo de mocidade, consagração, visitando os doentes nos lares e em hospitais, tarefa que desempenhava com satisfação e amor, embora não tenha recebido tantas visitas quanto fez, no momento em que mais precisou.

Foi presenteada por Deus com 05 netos: Felipe, Paulo César, Matheus, Poliana e Lucas. Para ela, seus netos eram seus tesouros, dizia que amor de avó era diferente de amor de mãe.

Sempre foi uma mulher ativa, destemida, de uma alegria contagiante, rígida nos momentos que precisava ter o controle da situação, mas de um coração cheio de amor e carinho.

Mas nem tudo na nossa vida é um mar de rosas, e ela foi vítima de alguns AVC’s que lhe deixaram seqüelas sérias e aos poucos foram tirando o seu brilho, sua vivacidade e os papéis começaram a se inverter, eu passei a ser a mãe e ela a minha filha. E comecei a abrir mão da minha vida pra cuidar dela. Até que no dia 22/06 a situação ficou tão crítica ao ponto dela ser internada numa UTI. Foram 33 dias de muita dor e sofrimento na UTI do Hospital Dom Helder, entubada, medicação venosa 24 horas, sonda pra se alimentar, sessões diárias de hemodiálise.

Ontem Deus lhe chamou de volta pra casa, precisava de mais uma voz no Grande Coral Celeste já que aqui na terra estava sem cantar há algum tempo, mas que com certeza um dia eu estarei ao seu lado mais uma vez e voltaremos a cantar juntas como fizemos várias vezes. Talvez ela não tenha vivido tantos anos como gostaríamos, mas ela soube viver os 64 anos de idade com muita maturidade, responsabilidade e ética em tudo o que fez e acima de tudo foi uma mulher de uma fé inabalável do Deus Vivo e Poderoso.

Não existe nenhum aparelho, mesmo com todo o avanço tecnológico que vivemos, que possa medir a intensidade do amor, mas tenho certeza que de todos da família, ninguém sentirá mais saudade, ninguém sofrerá mais com a sua ausência do que eu, pois ela sempre foi além de mãe, uma amiga, companheira, confidente, cúmplice, meu chão, meu alicerce, meu porto seguro. Nunca mais irei sentir o calor dos seus abraços; não receberei mais os seus beijos; não ouvirei mais o seu “Deus te abençoe” sempre que eu lhe pedia a bênção; não acordarei mais ouvindo a mesma história sobre o dia do meu nascimento nos meus próximos aniversários; não terei mais os seus sábios conselhos; não ouvirei mais até mesmo as suas broncas quando eu merecia. Mas eu tive a grande oportunidade de saber e sentir o que é ser amada incondicionalmente por minha mãe. Também tive tempo e chance de demonstrar e retribuir todo esse amor que recebi dela. Talvez eu não tenha a graça de ser mãe um dia, mas caso eu seja, com certeza seguirei à risca o modelo de mãe que ela foi pra mim. Não me arrependo de ter deixado de viver a minha vida para cuidar da minha mãe, com certeza faria tudo de novo pois ainda me sinto devedora porque ela foi tudo o que eu precisava e muito mais do que eu merecia.

Tudo o que eu posso dizer agora é que enquanto choramos na terra por causa da saudade que sentiremos dela há alegria nos céus porque Deus recebeu mais um dos Seus filhos de volta para o lar.