quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A Amizade na Vida do Pastor





Por
 
Angela Vauthier

 

Quem nunca se sentiu sozinho mesmo estando em família ou entre amigos? Quem nunca se sentiu o menor diante de um grupo de pessoas capacitadas? Quem nunca se viu precisando de um ombro amigo pra chorar e dividir as tristezas e frustrações e muitas vezes teve que chorar sozinho porque não encontrou ninguém que pudesse ajudar?
Fomos criados para vivermos em sociedade e uma das coisas que nos alegra e complementa a vida é a amizade. De acordo com o dicionário, Amizade – s. f.Afeição, estima, dedicação recíproca entre pessoas do mesmo sexo ou de sexo diferente: laços de amizade. Sentimento de quem é amigo. Amor. Dedicação. Benevolência.
Estamos vivendo num mundo globalizado, onde o avanço da internet tem facilitado a comunicação entre as pessoas que estão distantes geograficamente aproximando-as cada vez mais, porém ironicamente também tem afastado as que estão próximas já que se perde tanto tempo conectado conversando. O resultado disso tem sido a mudança de comportamento das pessoas, alguns passaram a se isolar no mundo real para viver apenas no virtual; outros querem trazer do mundo virtual vocabulários e comportamentos para o mundo real; alguns se tornaram tão fissurados que tudo o que pensam ou fazem tem como finalidade expor na internet; há ainda aqueles que passam uma imagem de superioridade no mundo virtual, de muita ostentação, mas que não passa de utopia para impressionar a quem tiver acesso; e também existem aqueles dramáticos, que adoram chamar atenção, fazendo-se de coitadinho para que a sua carência afetiva possa ser suprida.
 
 Não podemos esquecer de falar de como hoje está tão vulgar o verdadeiro valor e sentido do que é ser amigo. Com as redes sociais (Orkut, Facebook, Twitter e etc.), a facilidade de se fazer amizade é enorme. Para alguns quanto maior o número de “amigos” em seu perfil, melhor, como se isso fosse um troféu, pois mostra o quanto essa pessoa é popular.  
Há aqueles que se comunicam todos os dias com os amigos na internet e quando os encontra pessoalmente nem sabe quem são, não dá atenção, para eles o amigo é um estranho. Há outros que mal foram aceitos num perfil de rede social já se acham íntimos o suficiente para proclamar aos quatro ventos que é amigo daquela pessoa e até se acham no direito de invadir a privacidade alheia. E há ainda aqueles que só procuram ter e/ou manter uma amizade quando o outro tem algo que ele possa usufruir: dinheiro, status, amigos influentes, etc. E quando isso se acaba a amizade vai junto.
Bem diferente da maneira simples e pura que as amizades nasciam antigamente: vizinhos que cresciam juntos e praticamente se tornavam uma família; colegas de classe que ao longo dos anos a amizade ia se fortalecendo e em alguns casos terminava até em casamento; colegas de trabalho que a amizade ultrapassava os limites da empresa...
Enfim, quando alguém abria a boca para dizer que era amigo de alguém é porque tinha intimidade tamanha a ponto de conhecer gostos, costumes, partilhar momentos bons e maus e o mais importante, estar à disposição para ouvir e ajudar quando um amigo estivesse passando por problemas.
A Bíblia nos fala a respeito de um jovem que sofria rejeição em seu lar por seu pai e seus irmãos. Não era tido como forte, valente ou formoso aos olhos, não tinha perspectiva de no futuro se tornar um soldado do rei, já que a sua função era cuidar das ovelhas da família para delas trazer o sustento de casa. Assim era a vida de Davi.
Em I Samuel 16, vemos o relato de como o Senhor direcionou o profeta Samuel até a casa de Jessé para que lá ele pudesse consagrar o novo rei de Israel. Com o olhar estratégico de que a nação necessitava de um rei que defendesse o seu povo dos inimigos que guerreavam contra eles, qualquer um aceitaria a ideia de consagrar um dos filhos de Jessé que eram soldados do rei Saul, inclusive o próprio Jessé fez questão de apresentá-los ao profeta por acreditar que eram capazes de assumir tal posição. Mas como o Senhor mesmo falou ao profeta: “... Não considere sua aparência nem sua altura, pois Eu o rejeitei. O Senhor não vê como o homem, o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração”.
Ao ver que todos os filhos de Jessé haviam sido apresentados e reprovados pelo Senhor, Samuel procura ver se ainda restava uma chance de encontrar naquela casa o escolhido pelo Senhor, afinal, ele estava ali porque tinha certeza da determinação do Senhor. É quando se fala de maneira tão desprezível que ainda tinha o caçula mas que estava cuidando das ovelhas. Lógico que essa atividade não poderia ser comparada com a de seus irmãos.  Como um pastor de ovelhas poderia conhecer os armamentos de guerra e suas utilidades? Qual o preparo físico e tático Davi tinha para entrar numa batalha e como reconhecer as estratégias do inimigo se o seu mundo se resumia apenas ao balido das ovelhas, o barulho das correntezas das águas, o aroma das plantas e a sabedoria de guiar o seu rebanho para lugares seguros?
E o que tinha de interessante para contar ao chegar em casa depois de um dia de trabalho? Que salvou uma ovelha de cair no abismo, ou a livrou de um animal feroz, ou ainda que a limpou dos carrapichos que estavam agarrados em seu corpo? Bem diferente de ouvir as grandes aventuras que seus irmãos tinham para contar ao voltar das vitoriosas batalhas com o rei Saul.
Com certeza Davi conseguia superar essa rejeição e encontrava refúgio quando em seu labor com as ovelhas sentava-se na relva e começava a tocar a sua harpa e compor suas belas canções de exaltação ao Senhor. Ali ele podia ter a certeza que era amado, compreendido, aceito e não precisava se sentir inferior. E era ali que Davi tinha o seu momento de comunhão com Deus.
Porém o Senhor em tudo tem um propósito em nossas vidas. Davi passou por tudo isso porque um rei não precisa ter apenas o conhecimento tático para defender seu povo, um rei precisa ter um coração amável para saber cuidar de seu povo de maneira justa e agradável. E Davi enquanto cuidava das ovelhas passou por esse aprendizado, pois ele precisava trazer para o seu reinado o mesmo cuidado que ele tinha com as suas ovelhas.     
Embora ele não fosse querido entre os seus irmãos, e com certeza perseguido, sem direito de se expressar ou opinar, a prova está em I Samuel 17: 28-29 onde lemos: “Quando Eliabe, o irmão mais velho, ouviu Davi falando com os soldados, ficou muito irritado com ele e perguntou: ‘Por que você veio até aqui? Com quem deixou aquelas poucas ovelhas no deserto? Sei  que você é presunçoso e que seu coração é mau; você veio  só para ver a batalha’. E disse Davi: ‘O que eu fiz agora? Será que não posso nem mesmo conversar?’ ”; Deus lhe deu um grande presente: a amizade de Jônatas.
Em I Samuel 18:1-4 A Bíblia nos diz: “Depois dessa conversa de Davi com Saul, surgiu tão grande amizade entre Jônatas e Davi que Jônatas tornou-se o seu melhor amigo. Daquele dia em diante, Saul manteve Davi consigo e não o deixou voltar à casa de seu pai. E Jônatas fez um acordo de amizade com Davi, pois se tornara o seu melhor amigo. E Jônatas tirou o manto que estava vestindo e o deu a Davi, com sua túnica, e até sua espada, seu arco e seu cinturão”.
Com certeza os irmãos de Davi deviam se questionar por que Jônatas agia assim com Davi e nunca agiu com eles antes. A inveja devia estar pairando em seus corações, afinal, Davi sempre foi um simples pastor de ovelhas, qual tipo de vivência ele tinha em comum com Jônatas para ter uma amizade tão sólida como essa?
Mas os planos de Deus não são os nossos. Como Davi poderia se familiarizar com os costumes e rituais de um palácio real se ele não tivesse livre acesso ao ambiente? Como poderia saber se portar à mesa, na sala real, no trato com os empregados e até mesmo nas decisões que eram julgadas ao serem trazidas ao rei se ele estivesse apenas limitado ao convívio dos soldados treinando para as guerras? Todo o tempo que Davi passou entre a sua consagração até assumir de fato e de direito o trono de Israel foi um preparo do Senhor em sua vida, como um diamante sendo lapidado, ele esperou pacientemente e enquanto esperava não perdia a oportunidade de aprender tudo o que iria precisar para ter um reinado bem sucedido. E claro que tudo isso lhe foi permitido por causa de sua amizade com Jônatas.
  Esse é um exemplo belíssimo de amizade sincera e que se manteve a lealdade, mesmo quando um deles já havia partido. Davi e Jônatas eram amigos leais e firmaram um compromisso de se protegerem bem como aos seus familiares mesmo se um deles morresse. Em I Samuel 20:23 nos diz: “Quanto ao nosso acordo, o Senhor é testemunha entre mim e você para sempre”. Jônatas morreu numa batalha e o seu filho Mefibosete ficou órfão e foi criado por sua ama que fugiu com ele ao saber da morte do rei Saul . Quando Davi finalmente assumiu o trono não demorou muito para por em prática o que havia prometido: procurou saber se ainda restava vivo alguém da casa de Jônatas e não apenas devolveu toda a propriedade que era de direito de Mefibosete, como o fez sentar-se à sua mesa tornando-o membro da família real. Talvez algumas pessoas atualmente não tomassem essa mesma atitude, afinal, só quem sabia desse pacto eram eles dois e Jônatas estava morto, mas Davi era íntegro e temente a Deus e tinha certeza que o Senhor tinha visto quando ambos fizeram o juramento, pois de Deus ninguém se esconde e nada fica oculto.
Essa é a prova de que um amigo não é apenas para estar presente nos momentos de alegria, de festa, mas amigo é para socorrer nos momentos de tristeza, necessidade e sufoco. Ser amigo é não olhar posição, mas a real necessidade do outro.
 
Não podemos esquecer  da atitude de Jônatas ao trocar suas vestes com Davi, foi a prova de que diante do Senhor somos todos iguais e que ninguém é superior, mas principalmente que não devemos deixar que barreiras nos separem, e nosso caso, as denominacionais.
 A vida de um Pastor não é fácil, ele tem que ser um pouco psicólogo, socorrista, advogado, pai, amigo, conselheiro, muitas vezes incompreendido e poucas vezes reconhecido o seu esforço pelas almas que o Senhor lhe confiou.  Assim como Davi, o Pastor precisa saber conduzir suas ovelhas a lugares seguros e defendê-las dos perigos que lhes cercam, lhes dar o alimento saudável para que tenham o crescimento espiritual correto. O Pastor se dedica ao seu rebanho e muitas vezes abre mão de seus próprios interesses para que eles não se percam.
 
E quem vai cuidar do Pastor?  Quem pode lhe dar atenção, chorar com ele, ouvir seus problemas e suas queixas? Quem pode dividir com o pastor as suas cargas? Quem poderá lhe oferecer um ombro amigo? Da mesma maneira que Davi encontrou em Jônatas um amigo leal que lhe proporcionou crescimento para a sua vida como rei, espero que cada Pastor, cada Davi espalhado nesse mundo, encontre o seu Jônatas para que no decorrer de sua caminhada espiritual e pastoral, possa ter o apoio necessário, uma amizade leal, não levantando a bandeira de sua denominação, mas entendendo que como Corpo de Cristo precisamos viver a unidade que o Senhor Jesus pediu em Sua oração sacerdotal: “... para que sejam um, assim como somos um”. João 17:11.
 

 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

A Primavera




Por
Angela Vauthier


“Veja! O inverno passou; acabaram-se as chuvas e já se foram. Aparecem flores na terra e chegou o tempo de cantar”. Cantares 2.11,12


A primavera é a mais bela das estações. É nela que podemos perceber a beleza das flores e sua diversidade de cores, formas, aromas e tipos. É a estação dos românticos, dos enamorados, dos poetas, dos artistas plásticos...

Quem não gosta de admirar a beleza de um jardim bem cuidado, repleto de flores variadas? Quem não gosta de receber um belo buquê de rosas? Quem não gosta de ser comparada a uma rosa, por sua beleza e delicadeza? Ser chamada de flor é um elogio que nos alegra.

Admiramos a Primavera, o que nem sempre paramos para refletir é todo o processo que antecede a essa estação.

Enfrentamos o verão, época quente, muitas vezes faz um calor insuportável que prejudica a nossa pele. Nessa estação é necessário tomar mais líquido que o habitual. No verão, se as plantas, principalmente as flores, não forem bem regadas, murcharão, perderão a beleza e a vida. Se compararmos com a nossa vida espiritual, também passamos por momentos quentes, atribulados, e se não tomarmos da fonte da água viva também morreremos desidratados.  "Mas bendito é o homem cuja confiança está no Senhor, cuja confiança nele está. Ele será como uma árvore plantada junto às águas e que estende as suas raízes para o ribeiro. Ela não temerá quando chegar o calor, porque as suas folhas estão sempre verdes; não ficará ansiosa no ano da seca nem deixará de dar fruto". (Jeremias 17:7-8.)

Em seguida vem o outono, época de ventania. O tempo começa a esfriar e as plantas começam a perder as suas folhas, flores e a beleza de antes vai se acabando aos poucos, mas algumas plantas de raízes profundas permanecem firmes. Na nossa vida espiritual também passamos por momentos de ventanias e algumas quedas, as assim como as plantas que resistem ao vento, nós continuamos firmes e de pé.

Chega o inverno com suas chuvas fortes, muitas vezes verdadeiras tempestades. Com as chuvas também vêm o frio e a ventania, causando desastres, enchentes, deslizamentos de barreiras. Mas quando chove na medida certa, abastece os reservatórios e irriga as plantações.  No mundo espiritual também passamos por tempestades, há momentos que achamos que é um inverno sem fim, mas o Senhor acalma a tempestade e o vento (Mt 8.23-27) e a chuva de bênçãos sem medidas irriga a nossa fé nos fazendo entender que a tempestade não é eterna e que em breve virá a bonança.

E todo esse processo resulta na primavera, e nós como rosas no jardim do Senhor, podemos exalar o Seu perfume, "porque para Deus somos o aroma de Cristo entre os que estão sendo salvos e os que estão perecendo" (II Coríntios 2:15) , mostrar ao mundo a nossa beleza e dizer que temos um jardineiro que não nos desampara em nenhuma das estações. Que mesmo no calor, na ventania e na tempestade, Ele, como um jardineiro cuidadoso, está nos protegendo e cuidando para que tenhamos o calor, a brisa e a chuva na medida certa para o nosso crescimento e o resultado Lhe deixa feliz ao ver um colorido tão perfeito de Suas flores no mundo todo: várias nacionalidades e denominações Lhe servindo e seguindo os Seus ensinamentos.

“Porque o Senhor consolará a Sião; consolará a todos os seus lugares assolados, e fará o seu deserto como o Éden, e a sua solidão como o jardim do Senhor; gozo e alegria se achará nela, ação de graças, e voz de melodia”. (Isaías 51.3)